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sábado, 25 de junho de 2011

Posição do PT contra greve dos professores em Fortaleza não é desvio. É método! 20/06/2011


Causou surpresa a muita gente a posição da prefeita de Fortaleza Luizianne Lins e do seu líder na Câmara, o vereador Ronivaldo Maia, ambos do Partido dos Trabalhadores, na greve dos professores municipais. A dupla não só foi a público anunciar que não negocia com grevistas, como pediu na Justiça a ilegalidade do movimento. O desconforto na avaliação de alguns consiste na suposta contradição entre o passado de “lutas” de Luizianne e Ronivaldo, figuras fáceis em qualquer movimento de greve – qualquer um! – deflagrado enquanto estes estava na oposição, e a intransigência demonstrada agora. Uma vez governo, teriam mudado de lado e traído a vocação do partido.

Imagem romântica
Essa visão romanceada, que preserva a sigla e condena um ou outro sujeito, deriva justamente do discurso forjado durante três décadas para fazer do PT a expressão virtuosa de um maniqueísmo intrínseco à teoria da luta de classes, a força do bem a duelar contra o mal, o amigo dos explorados e adversário dos exploradores, o portador único da ética na política e defensor maior da justiça social. Enfim, o ator principal desse conto de fadas marxista que aprendemos desde cedo nas escolas.

Essa imagem foi de tal forma introduzida e consolidada na mentalidade do brasileiro médio (por meio da Revolução Cultural de Gramsci), que lhe é impossível perceber que Luizianne e Ronivaldo, ao renegarem os antigos parceiros de passeatas, tratando-os na base do cacetete e do spray de pimenta, não agem à revelia do PT, e sim confirmam a condição de militantes genuínos da sigla.

Imperativo categórico degenerado
É que para esses agentes, o interesse do Partido é que lhes serve de guia supremo, como uma espécie de imperativo categórico (conceito formulado por Kant) degenerado. Resumindo, a ética, para um verdadeiro militante, não está na causa, nos meios ou nos fins, mas na urgência das demandas do partido. Foi o que quis dizer o ator petista Paulo Betti, quando justificou o mensalão afirmando que para governar era preciso sujar as mãos de merda.

Em 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tão amigo dos pobres e dos trabalhadores, tão defensor da natureza e parceiro dos movimentos sociais, enviou soldados do Exército e policiais federais para desocupar a Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, tomada por manifestantes do MST e Movimento dos Atingidos por Barragens.

Em 2004, durante o governo de Lúcio Alcântara, Nelson Martins (PT) pedia aumento de 30% para os professores. Em 2007, líder do governo Cid Gomes na Assembleia Legislativa do Ceará, defendeu aumento de 3,5%. E por aí vai. A lista de exemplos é imensa.

Método dúbio
Tanto Lula, como Nelson Martins, Luizianne e Ronivaldo, agiram motivados pelo dever de preservar o partido no poder, pouco importam as tais lutas históricas alardeadas em outras ocasiões. O mérito da causa é o que menos importa ao grupo. Da mesma forma, Dilma Rousseff passou a campanha criticando as privatizações e cinco meses depois de eleita anunciou a privatização de aeroportos. Essa postura dúbia não é um acidente isolado, um desvio casual, uma traição individual, mas um método consistente de atuação política. O escritor George Orwell, conhecedor profundo das tramas do stalinismo, chamou essa capacidade camaleônica de “duplipensar”.

Se amanhã, de volta ao papel de opositores, Luizianne e Ronivaldo souberam de uma greve de professores municipais, estarão lá, de braços dados com seus companheiros sindicalistas, esses mesmos que agora os criticam. Todos irão dizer que a culpa pela divergência de agora é da elite, ou dos neoliberais, dos empresários da educação, ou algo que o valha. E se alguém perguntar por qual motivo Luizianne não aumentou os salários dos professores, ela irá dizer que fez mais do que qualquer outro, responsabilizando a imprensa por querer jogar o PT contra os movimentos sociais.

Eles mudam de lado, podem ser a favor de algo hoje e no dia seguinte serem contra, e ainda afirmar que nas duas situações estavam com a razão. Foram treinados para isso.

TEXTO RETIRADO DE:
http://wanfil.wordpress.com/2011/06/20/posicao-do-pt-contra-greve-dos-professores-nao-e-desvio-e-metodo/

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